Nos últimos anos, permanecer em Perdigão, durante os dias de Carnaval, não era opção das mais atraentes para os amantes da festa. Em 2017, a história mudou. A cidade que já foi referência na região, como um dos melhores destinos para os foliões, tenta resgatar a alegria e a beleza do Carnaval de rua local.
Com o lema: “Sou Tokaia, Sou da Paz”, o tradicional “Bloco Tokaia”, com quase 10 anos sem desfilar, ganhou a avenida e animou os foliões. A chuva que ameaçou cair não desanimou os integrantes que se concentraram na Praça José Teodoro. De lá, com uma bateria composta de aspirantes e também da “velha-guarda”, o grupo saiu sentido à Praça da Matriz, arrastando centenas de pessoas.
Após o desfile, a concentração foi em frente ao palco, montado na praça central. O som dos repeniques, surdos e tamborins ganhou o tom vibrante e a harmonia do cavaquinho que, somados aos vocais, garantiram uma noite de repertório bem eclético, do samba, ao sertanejo universitário.
À tarde, antes dos desfiles, a “Charanga” do “Bloco do Tibebe” também deu seu recado, relembrou antigas marchinhas e tocou o coração de muita gente.
A folia também foi marcada por emoções. Componentes da “Tokaia” prestaram uma homenagem a um de seus integrantes mais ilustre e fundador do bloco, Marcos de Oliveira, o “Marcos da Tokaia”.
André Luiz (34), conta que curte carnaval há anos, desde criança. “Sempre desfilei em blocos. Esta é a segunda vez que faço parte da Tokaia. Adoro o carnaval em Perdigão. Ano passado fui para Martinho Campos, foi bom, mas prefiro ficar aqui. É ótimo estar na minha cidade e ver meus amigos e todo o povo animado. A gente economiza e tem mais comodidade. Acho que deve continuar”, relatou o folião.
O ressurgir da festa já atrai gente como a belorizontina, Simone Gomes (45), que deixou a capital para curtir o carnaval em Perdigão. “Em Belo Horizonte tem crescido muito, muitos blocos, mas prefiro estar aqui. Estou achando tranquilo e aproveitando para rever os familiares”, conta.
A mesma opinião tem a profissional da educação, Regina Pereira. “Nós precisamos de eventos assim, para dar opções de lazer à população, principalmente aos jovens. Está tranquilo! Durante o período que estive na praça, não vi nenhuma confusão. Em 2015, fui para Furnas, ano passado para Castelhanos, no Espírito Santo, mas é porque aqui não tinha. Ficar na cidade da gente é bem melhor. Nosso Carnaval é ótimo!”, explicou a professora.
Investimento
O objetivo da Prefeitura Municipal é resgatar, aos poucos, a tradição do Carnaval. Este ano, os desfiles aconteceram mais cedo, por volta das 17h30, com encerramento às 22h. Estrutura reduzida, número de barracas limitado e sem contratação de bandas. O intuito foi de ter uma folia em “estilo família”.
Além dos enfeites, a organização buscou investir na limpeza. Tambores coloridos foram instalados para receber o lixo produzido pelos foliões. Banheiros químicos e contratação de equipe de apoio para dar suporte e contribuir com a segurança do evento que contou com a atuação contínua da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG).
Como surgiu
Perdigão já foi palco de inesquecíveis carnavais. Até a década de 80, os bailes eram realizados no Centro Social, organizados pelo pároco da época, Padre Tiago. O ambiente era propício para que toda a família pudesse ter diversão, lazer e entretenimento.
No final da década, algumas pessoas já se reuniam em bares e praças para curtir, até então, a tranquilidade da pequena e pacata cidade do interior.
Foi com a chegada de um grupo de amigos, perdiguenses, que na época trabalhava e morava em Belo Horizonte, que o cenário dos dias de folia começou a mudar. Os jovens que vinham à cidade para curtir o feriado e rever a família, sentiram a necessidade de uma atividade noturna, pois, durante o dia, podiam desfrutar das belezas naturais do município e se refrescarem com os banhos nas águas limpas do Rio Lambari. Os pontos preferidos eram: “Ponte dos Crioulos” e a “Cachoeira do Funil”.
De forma eclética e divertida, a ideia ganhou as ruas, mais precisamente a Praça José Teodoro, onde as primeiras reuniões aconteceram. Eram tranquilas, confortáveis e sem luxo, mas já se podia ouvir o ritmo dos poucos instrumentos. Surgia então, o primeiro e tradicional bloco carnavalesco da cidade, o “Bloco Tokaia”.
Para os integrantes, o que importava era ter e oferecer diversão. A alegria era garantida com canções tradicionais e sambas inesquecíveis. Um som mecânico, à época, originário de toca-discos, encerrava as noites.
Após o movimento ter sido aprovado pela população, a Prefeitura passou a investir na festa que, a partir de então, passou a contar com uma estrutura maior. As ruas ganharam o colorido dos enfeites, jato d’água para refrescar os foliões e uma banda subia ao palco todas as noites, tocando ritmos variados.
Tempos depois, surgia também o “Bloco Arrastão” que junto com a “Tokaia” desfilaram por muitos anos e serviram de inspiração para o aparecimento de vários outros grupos, como dos “Bond”. O som do batuque arrastava o animado “Bloco dos Coroas” e contagiava a multidão que, com alegria, tomava conta da avenida principal e Praça da Matriz.
Mais tarde, em 1999, o público se impressionou com o colorido e criatividade do mais novo grupo, o “Bloco dos Brutos”, que ganhou a avenida com passistas, baianas, mestre-sala e porta-bandeira e até a imponência de um carro alegórico. Era um embrião de escola de samba que começava a surgir com seu brilho, coreografias e amor pela avenida (durou pouco tempo).
A festa tornou-se tradicional e famosa, perdurou ao longo de muitos anos. A rivalidade entre os blocos foi o tempero para que os desfiles ficassem mais atrativos e animados. Assim, como os blocos, o Carnaval de Rua em Perdigão teve o seu fim em 2014.
Neste ano, 2017, o governo municipal decidiu resgatar a festa, por fazer parte da história, do folclore e ser um dos patrimônios culturais da cidade.